#RPGaDay2019 – dia 2, único

Ergueu os olhos, observando a escuridão confortável em que a abóbada da caverna desaparecia. Estavam muito fundo e, suspeitava, do outro lado do véu Havia um burburinho baixo, e ela conseguia distinguir os trevos que cobriam o chão. Continuou andando, e ali estava, deitado de um jeito confortável, enrodilhado em seu berço de trevos que quase o cobriam, dormindo pesado, hibernando como em um inverno que não chegava ao fim. Ela afagou o pelo macio do espírito adormecido. Uma parte dela só conseguia pensar em como um coelho, por mais fofo que parecesse, ainda seria um oponente perigoso se tivesse três metros, como o espírito parecia confortável em se manifestar.

Mas sabia que ninguém além dela poderia reabrir aquele caern, despertar aquele espírito, trazer de volta os lobos e reerguer o septo. Não porque fosse especial, mas por um pouco de sorte e uma jogada do destino. Que o caern estivesse na propriedade familiar que herdou do pai, abandonada desde que o velho tinha ido embora de lá, o ponto de poder perdido por um século, desde que a casa do Uivo Austero começou a se perder. Que fosse uma Fúria Negra e tivesse conseguido respeito dentro da tribo apesar de seu nascimento proibido e estéril, que pudesse trazer para perto guerreiras do tipo que um lugar como aquele precisaria.

Talvez fossem os dias finais. Mas não podia negar o prazer único de ver ruir as tradições e refazer tudo, contrariando o jeito de agir dos anciãos e trazendo de volta o tempo dos heróis com as próprias mãos.

Estralou os dedos. Podia sentir como suas irmãs de tribo se aproximavam, e ia fazer o ritual para fazer aquele coelho acordar mesmo que isso arrancasse o lobo de dentro dela.

(Leila “Lua Vermelha”, Lobisomem o Apocalipse)

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